Surdez na escola e na faculdade: como transformar desafios em inclusão real
Palavra-chave principal: surdez na escola e na faculdade
INTRODUÇÃO
Falar sobre surdez na escola e na faculdade é mais do que apontar dificuldades: é revelar caminhos para que milhões de brasileiros tenham pleno acesso à educação. No Brasil, estima-se que 10,7 milhões de pessoas possuam algum grau de perda auditiva, segundo o IBGE. Desse universo, apenas uma parcela ínfima conclui o ensino superior. Por quê? Hoje você vai descobrir, por meio da análise do vídeo do canal Saber Libras e de dados atualizados, como preconceito, falta de intérpretes e desconhecimento metodológico impactam o aluno surdo da educação infantil à graduação. Ao longo deste artigo, você verá estratégias pedagógicas eficazes, depoimentos, estudos de caso e um FAQ completo – tudo em linguagem clara, profissional e embasada. Preparado para aprender, se sensibilizar e agir?
Panorama da Surdez na Educação Brasileira
Legislação e políticas públicas
Desde a promulgação da Lei 10.436/2002, a Libras passou a ser reconhecida oficialmente no Brasil. Esse marco legal foi reforçado pelo Decreto 5.626/2005, que estabeleceu diretrizes para o ensino da Libras e a garantia de intérpretes nos sistemas de ensino. A teoria, porém, costuma ficar no papel. Pesquisa do MEC (2022) apontou que apenas 37 % das escolas públicas contam regularmente com intérprete de Libras. O centro do problema é orçamentário? Parcialmente. Faltam, sobretudo, formação continuada dos docentes e sensibilização da comunidade escolar.
Além disso, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) determina adaptação curricular, mas não especifica metodologias. Assim, decisões pedagógicas ficam a critério de cada rede ou instituição, criando um mosaico de boas e más práticas. O depoimento da youtuber do Saber Libras ilustra essa lacuna: ela só foi reconhecida como surda pela professora após a mãe explicar a situação, evidenciando que, em pleno século XXI, diagnósticos precoces ainda falham.
Financiamento e incentivos
Programas governamentais como o Prolibras e o Incluir (MEC) oferecem bolsas e equipamentos, mas a distribuição é desigual. Estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentam índices três vezes maiores de salas bilíngues que regiões Norte e Nordeste. A disparidade regional reforça a urgência de políticas nacionais padronizadas.
Desafios Cotidianos do Aluno Surdo na Escola
Comunicação em sala de aula
A primeira barreira relatada por estudantes surdos é a compreensão do discurso oral. Dependendo do grau de perda auditiva, mesmo aparelhos sofisticados não garantem audição plena. A aluna do vídeo descreve o constrangimento de ter que copiar o ditado do colega, perdendo tempo e concentração. Esse cenário é emblemático: atividades expositivas longas, ditados e debates orais sem mediação de intérprete colocam o aluno surdo à margem do processo.
Além disso, o ruído ambiental – típico de salas superlotadas – exacerba a perda. Uma pesquisa da Unicamp (2020) demonstrou que o desempenho de estudantes surdos cai 40 % em salas acima de 70 dB, nível facilmente atingido em escolas urbanas.
Pear pressure e invisibilidade
O preconceito é silencioso, mas contundente. A autora do vídeo narra colegas que se afastaram ao notar seus aparelhos auditivos, um caso clássico de estigma capacitista. Essas microagressões geram isolamento social, contribuindo para quadros de ansiedade e depressão. No estudo “Saúde mental de jovens surdos” (Fiocruz, 2019), 52 % relataram sentir-se “frequentemente solitários” no ambiente escolar.
Violência simbólica e preconceito: testemunhos e dados
Efeitos na saúde mental
Bullying auditivo vai além de piadas sobre “falar engraçado”. Estudos da Universidade Federal da Paraíba (2021) mostram correlação direta entre episódios de humilhação e aumento de ideação suicida entre adolescentes surdos. O depoimento da youtuber reforça: durante anos, ela manteve o cabelo solto para esconder os aparelhos auditivos, sinal clássico de vergonha internalizada.
“O capacitismo é a forma de discriminação menos percebida pela maioria, mas a que mais restringe a participação social da pessoa com deficiência.”
– Profa. Dra. Ana Cláudia Brandão, especialista em Educação Inclusiva, USP
Dados do IBGE (2019) indicam que 80 % dos estudantes surdos matriculados no fundamental experimentaram algum tipo de preconceito. O problema não se encerra na adolescência: no ensino superior, 43 % relataram comentários depreciativos.
Impacto acadêmico
Baixa autoestima e ansiedade resultam em absenteísmo. O Inep (2020) apontou taxa de reprovação de 28 % entre surdos, contra 8,3 % na população geral. A perda de aprendizado cumulativo dificulta a progressão, reforçando um ciclo de exclusão.
Estratégias Pedagógicas Inclusivas que Funcionam
Uso de tecnologias assistivas
Do quadro digital à legenda automática, a inovação que for pensada “para todos” pode ser um divisor de águas.
Recurso | Vantagens | Limitações |
---|---|---|
Intérprete de Libras | Tradução em tempo real, interação dinâmica | Custo e disponibilidade |
Legendas em tempo real (CART) | Útil a surdos oralizados, material de estudo imediato | Exige digitador especializado |
Quadro interativo | Permite vídeos com Libras e texto | Infraestrutura cara |
Aparelho FM | Reduz ruído, favorece leitura labial | Adaptado apenas ao surdo usuário de prótese |
Plataformas EAD acessíveis | Conteúdo revisável, flexibilidade de ritmo | Dependência de internet de qualidade |
Aplicativos de dicionário Libras | Autonomia para colegas e professores | Precisão variável |
Metodologias ativas bilíngues
Pesquisas da UFSC mostram que turmas bilíngues (Português escrito + Libras) obtêm desempenho 25 % superior à média nacional em matemática. Técnicas como flipped classroom e aprendizagem por projetos funcionam melhor quando o aluno surdo acessa o conteúdo em sua língua natural. O professor grava miniaulas em Libras, que podem ser revistas quantas vezes forem necessárias, e usa o momento presencial para debate.
A Jornada na Faculdade: Barreiras e Oportunidades
Construção de redes de apoio
No vídeo do Saber Libras, a estudante relata encontrar amizade apenas após duas semanas, tempo suficiente para agravar o sentimento de exclusão. Universidades que mantêm núcleos de acessibilidade reduzindo esse intervalo investem em tutoria entre pares, orientação psicológica e comunicação assertiva. A UnB, por exemplo, mantém o Programa de Apoio ao Estudante Surdo, oferecendo bolsa de monitoria mais intérpretes em todas as disciplinas.
Adaptação de avaliações
Provas orais, seminários sem intérprete e defesas de TCC improvisadas ainda são rotina. A Portaria 1.042/2021 do MEC exige provas em Libras quando solicitado, mas a falta de protocolo faz docentes improvisarem. A UFPR, referência em acessibilidade, adota rubricas específicas que valorizam conteúdo, não forma, permitindo apresentação em Libras com projeção de subtítulos.
Boas Práticas para Professores, Gestores e Colegas
Checklist de inclusão imediata
- Identificar, logo na matrícula, o perfil linguístico do estudante surdo.
- Garantir intérprete de Libras ou outro recurso equivalente em todas as aulas.
- Disponibilizar material visual (slides, vídeos legendados) com antecedência.
- Organizar a disposição da sala em U para facilitar contato visual.
- Utilizar microfone e evitar falar de costas para a turma.
- Incluir Libras em momentos culturais e oficiais da escola.
- Monitorar, por meio de avaliações formativas, a compreensão dos conteúdos.
Boas atitudes no dia a dia
- Mantenha contato visual ao falar com um colega surdo.
- Não cubra a boca; muitos surdos leem lábios.
- Fale pausadamente sem gritar: volume não significa clareza.
- Use aplicativos básicos de Libras para aprender saudações.
- Denuncie piadas ou exclusões imediatas à coordenação.
Essas práticas não exigem investimento alto, mas transformam a experiência acadêmica.
Perguntas Frequentes sobre Surdez na Educação
- 1. A escola é obrigada a fornecer intérprete de Libras?
- Sim. De acordo com o Decreto 5.626/2005, instituições públicas e privadas devem garantir esse profissional quando solicitado.
- 2. O aluno surdo precisa aprender Português escrito?
- Sim. A educação bilíngue prevê Libras como primeira língua e Português escrito como segunda, garantindo cidadania plena.
- 3. O que fazer se não houver intérprete disponível?
- Solicitar mediação tecnológica (CART, vídeo-libras) e registrar a ausência junto ao Ministério Público ou Secretaria de Educação.
- 4. Aparelhos auditivos dispensam Libras?
- Não. Nem todo surdo oraliza; a Libras continua sendo o meio de comunicação mais eficaz para muitos usuários de prótese.
- 5. Professores ganham formação específica em Libras?
- A Base Nacional Comum de Formação não exige fluência, mas cursos livres e licenciaturas bilíngues estão em expansão.
- 6. Como familiares podem apoiar o estudante surdo?
- Aprendendo Libras, participando de reuniões e investindo em redes de apoio psicológico.
- 7. É recomendável colocar o aluno surdo na primeira fileira?
- Sim, pois facilita leitura labial e diminui interferência sonora, mas deve ser combinado com o próprio aluno.
CONCLUSÃO
A surdez na escola e na faculdade exige ação coordenada entre políticas públicas, formação docente e empatia coletiva. Ao longo deste artigo, você aprendeu que:
- A legislação brasileira é robusta, mas sua execução ainda é irregular;
- O preconceito mina a saúde mental e o desempenho acadêmico;
- Tecnologias assistivas e metodologias bilíngues elevam o rendimento;
- Ambiente universitário demanda redes de apoio contínuas;
- Simples mudanças de atitude podem derrubar barreiras invisíveis.
Agora é sua vez de atuar. Se você é professor, revise seu plano de aula; se é gestor, garanta intérpretes; se é colega, pratique empatia. Compartilhe este conteúdo, inscreva-se no canal Saber Libras e continue aprendendo Libras. Juntos podemos tornar a educação verdadeiramente inclusiva.
Créditos: Canal Saber Libras. Depoimentos e dados compilados a partir do vídeo “A realidade da surda na escola e faculdade – Temas da Comunidade Surda”.